Hoje me sinto à vontade em trazer à tona um assunto delicado para mim, o assédio sexual no ambiente de trabalho. Entendi que esta discussão é importante, e maior que a vergonha que senti por muito tempo, por ter vivenciado isto na pele, sobre como os corpos femininos são constantemente vistos como objeto, além de casos de constrangimento e até assédio disfarçados na alcunha de “brincadeiras” praticadas por homens hierarquicamente superiores. Quantas mulheres já foram vítimas de assédio e importunação sexual e quando se pronunciaram ouviram que tudo não passou de uma brincadeira?
Bom, por mais de 20 anos desenvolvi uma carreira nas áreas Comercial e Marketing, atuando em empresas multinacionais e nacionais do segmento Farmacêutico e Hospitalar, em posições de liderança e na gestão de equipes de vendas orientadas para alta performance.
Nesta trajetória o primeiro obstáculo que precisei superar foi o da discriminação de gênero, ser mulher numa área, até então, ocupada por homens. Nós mulheres temos que provar o tempo todo que somos capazes. Quando finalmente fui reconhecida e incluída no grupo cheguei a receber elogios do tipo: “você é quase um homem”. Para, para, para, espere um pouco, isto definitivamente não é um elogio. Era vista por meus pares e superiores desta forma porque eu tinha um pensamento lógico e racional, me destacava por ser focada, organizada e fera no planejamento e implementação das ações com minha equipe. As pessoas ao redor e até os meus liderados achavam que eu era inabalável, absorvia bem a pressão.
Neste período além do assédio moral passei por dois episódios de assédio sexual, de homens hierarquicamente superiores. No último episódio, o mais marcante, o CEO da empresa se aproveitou do momento em que estávamos sozinhos, durante um almoço, para tecer comentários pouco profissionais. Ele disse que eu deveria dormir com ele. Fiquei incomodada e falei que tinha me sentido desconfortável, que aquilo era inapropriado para nossa relação, que era unicamente de trabalho. Ele assentiu e eu acreditei que o recado havia sido compreendido. Só que as investidas não pararam, quando estávamos no carro, ele continuou insistindo que isso era natural, um homem e uma mulher adultos escolhendo o que fazer de suas vidas, novamente eu disse que nossa relação era estritamente de trabalho.
Como as investidas continuaram por mais alguns dias, por meio de ligações de celular, tomei a decisão de pedir ajuda ao meu gestor direto que era o diretor Comercial e a diretora do RH (aqui poderíamos dizer DP), que perguntaram: Tem certeza de que aconteceu dessa forma ou você se ofereceu? Esta pergunta me deixou surpresa e perplexa ao mesmo tempo. Gente! Como assim? Ainda, nos dias de hoje, as mulheres são culpadas pelas atitudes inadequadas dos homens. Tudo isso foi surreal e deixou marcas indeléveis. Eu me senti desrespeitada, inadequada, constrangida, revoltada, nenhuma ação corretiva foi tomada por parte da empresa, tudo ficou no esquecimento, mas a repulsão que eu sentia continuava.
Se existe um dado alarmante quando se trata de assédio sexual no ambiente de trabalho é o fato de que a maioria das denúncias (ainda) vira água. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita pela plataforma de carreira Vagas, que ouviu 4.900 profissionais e descobriu que, em 74% dos casos, nada acontece com os assediadores.
O assédio sexual viola a dignidade da pessoa humana, é crime e não pode ser esquecido, deixando o assediador impune! O art. 216-A do Código Penal assim conceitua o assédio sexual: “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”, punindo o assediador com reclusão de 1 a 2 anos.
Nesta época eu estava vivendo outro turbilhão, o divórcio, e precisava continuar empregada. Além de prejudicar a minha autoestima e aumentar a insegurança, o assédio teve impactos diretos na minha trajetória profissional. Isso aconteceu por diversos fatores. No dia a dia, a consequência imediata foi a queda na minha performance, afinal, quem está no meio de um turbilhão como esse não consegue se concentrar nas atividades do trabalho e acaba perdendo, também, a motivação para entregar as tarefas.
Outro problema foi perder oportunidades interessantes, pois fui forçada a mudar de rota. Esses traumas emocionais fizeram com que eu visse meu potencial sendo limitado. A autogestão de carreira está atrelada a vários pilares, como network, reputação, competitividade, saúde mental. Quando um deles está desequilibrado, os outros também ficam.
No limite, desenvolvi problemas mais sérios de saúde, como estresse pós-traumático, síndrome de burnout e depressão.
Foi nesse momento que decidi que não era mais possível viver assim, e me perguntei se não haveria uma solução definitiva. Mudei de emprego, casei-me de novo, mas tudo continuava igual. Gente! Não adianta mudar de emprego, de casa, de país, de planeta. Enquanto você tiver o mesmo padrão de pensamentos e comportamentos, tudo continuará igual na sua vida.
Até que um dia eu conheci a hipnoterapia e entendi o poder que a nossa mente tem sobre nós mesmos, acontece que o cérebro humano é uma máquina de crenças, e quando você entende isso, percebe que pode criar ou descriar qualquer tipo de crença que o seu cérebro tenha aprendido a acreditar e aceitar. Passei pelo processo e ressignifiquei todos estes fatos e outros de uma vida inteira, depois desta experiência eu me senti verdadeiramente livre.
Decidi estudar mais a fundo e fiz a formação em Hipnoterapia, na maior instituição sobre esse assunto no mundo a Omni Hypnosis Training Center, a partir daí, ajudar outras pessoas a se livrarem de dores como a minha passou a ser minha missão. Você pode controlar suas emoções e impulsos sejam eles quais forem, tudo está na mente.
E você pode começar se perguntando: Quais são meus padrões limitantes? Quais problemas de saúde desenvolvi pelo meu estilo de vida e de trabalho?
Definitivamente! Uma pessoa de sucesso é uma pessoa comum, como eu e como você, mas com uma mente livre e focada.