Por Débora Diniz
Posso apostar que você, alguma vez em sua vida, já disse “Não aguento mais!” ou “Atingi o meu limite!”, mas é preciso ficar atento aos sinais que o corpo dá, pois podem ser os desabafos de quem sofre da síndrome de burnout. Três em cada 10 profissionais do país tem síndrome de burnout e você pode ser um deles. Mas o que exatamente é o burnout?
A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo clínico Herbert J. Freudenberger, em 1974, como um conjunto de sintomas inespecíficos, médico-biológicos e psicossociais no ambiente de trabalho como resultado de uma demanda excessiva de energia, caracterizada por um estresse devastador, extremo, superior à capacidade pessoal de lidar com questões do dia a dia de modo eficiente.
Atualmente, a síndrome de burnout é definida por uma combinação de três fatores: exaustão emocional (depleção da energia emocional pela demanda excessiva de trabalho, o trabalho passa a ser visto como algo penoso e doloroso), despersonalização (senso de distância na prestação de cuidados ou do trabalho, sem afetividade e pouco empáticos e humanizados com o outro) e baixa realização pessoal (sensação de baixa autoestima e baixa eficácia no trabalho, sensação de descontentamento e desmotivação com o trabalho, que conduzem à percepção de perda de sentido e interesse), em outras palavras, a síndrome ocorre quando as demandas do dia a dia no trabalho, os estressores (situações que provocam estresse) e nossas recompensas e propósitos estão desalinhados.
A motivação no trabalho é resultado de uma série de interações entre esforço individual, rendimento obtido, organização e objetivos pessoais, enquanto o estresse é uma resposta fisiológica e comportamental do indivíduo, ao deparar-se com situações, eventos, pessoas ou objetivos potencialmente estressantes, induz essa reação, a qual é essencial para a sobrevivência.
A novidade é que desde o dia 1º de janeiro, na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (OMS), CID-11, o burnout foi catalogado como um fenômeno ocupacional, e não como uma doença específica. Isso quer dizer que ele é provocado pelo trabalho.
Assim, os indivíduos diagnosticados, inclusive no Brasil, passam a ter as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para as demais doenças do trabalho. É isso que diferencia o transtorno psíquico de caráter depressivo de outros como estresse, ansiedade e síndrome do pânico, já que os sintomas são parecidos e costumam ser confundidos não só pelo paciente, mas, muitas vezes, pelo próprio médico.
Porém se você está ouvindo falar muito sobre burnout atualmente, não é apenas por causa da nova classificação do transtorno. É também por causa do aumento de casos registrados em todo o mundo. O esgotamento provocado pelo trabalho já era um problema aqui no país, segundo dados de uma pesquisa da Associação Internacional de Manejo do Estresse (ISMA-BR) 72% dos brasileiros já sofriam com estresse no trabalho, entre eles, 32% estavam com burnout.
A pandemia de Covid-19, no entanto, piorou o cenário, trazendo não só uma forte sobrecarga psicológica, física e emocional, mas também levando o trabalho para a casa de muitas pessoas sem qualquer planejamento prévio. Um estudo da Associação Paulista de Medicina do Trabalho mostrou que a migração para o trabalho remoto foi feita de forma improvisada, sem levar em consideração importantes aspectos físicos, cognitivos e até emocionais.
O burnout atingiu particularmente os profissionais de saúde (por motivos óbvios de excesso de trabalho) e, também, pais e mães que trabalham. Esta é a mais recente descoberta saída de um estudo divulgado por pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, que conclui que 66% dos pais que trabalham satisfazem os critérios de síndrome de burnout parental. Esse termo não clínico significa que esses pais e mães estão tão exaustos com a pressão de cuidar dos filhos e de dar conta das tarefas do trabalho e da casa que sentem que estão no limite de suas forças.
Se você está se sentindo exausto, incapaz e odeia o que faz, alerta vermelho: pode ser preciso procurar ajuda. No entanto, é importante ser capaz de identificar os sinais e sintomas de burnout porque está associado a vários problemas de saúde. O estresse crônico contribui para ansiedade, depressão, doenças cardiovasculares e dificuldades emocionais. O burnout altera o cérebro, afetando a criatividade, a memória e a resolução de problemas.
Para identificar melhor se você está próximo do burnout, faça algumas dessas perguntas a si mesmo: “estou me sentindo sobrecarregado de responsabilidades ao ponto em que não quero fazer mais nada?”, “estou tendo menos paciência e me irritando mais facilmente com os outros ao meu redor?”, “acordo extremamente cansado mesmo tendo dormido cedo na noite anterior?”. Se a resposta for “sim” para essas e outras perguntas, fique atento. Caso ignore esses sinais, você poderá acabar sofrendo com um sentimento de desesperança difícil de superar.
Burnout é uma condição insidiosa, acontece lentamente, por um longo período de tempo. Mas as consequências podem alterar a vida, e é por isso que é importante identificar os sinais precocemente. O Ministério da Saúde lista os principais sintomas da síndrome de burnout:
- Cansaço excessivo, físico e mental;
- Dor de cabeça frequente;
- Alterações no apetite;
- Insônia;
- Dificuldades de concentração;
- Sentimentos de fracasso e insegurança;
- Negatividade constante;
- Sentimentos de derrota e desesperança;
- Sentimentos de incompetência;
- Alterações repentinas de humor;
- Isolamento;
- Fadiga;
- Pressão alta;
- Dores musculares;
- Problemas gastrointestinais;
- Alteração nos batimentos cardíacos.
Mas nem todo burnouté igual. Pelo menos é o que pontuou um estudo divulgado pelo site “Inc.”. Segundo eles, há três tipos de burnout:
- Burnout por sobrecarga – Esse tipo acomete pessoas sobrecarregadas pela pressão e pela carga de trabalho intensas. Frequentemente, são pessoas ambiciosas, que acabam comprometendo a saúde na busca por sucesso. Por isso, apesar de reclamarem do cansaço muitas vezes, tendem a assumir mais e mais desafios e compromissos – até chegarem no limite;
- Burnout de sub desafio – Esse tipo é causado pela falta de reconhecimento no trabalho e de oportunidades de aprendizado. O resultado: pessoas pouco engajadas, entediadas e que acabam se tornado cínicas a respeito do trabalho. No longo prazo, os efeitos podem ser danosos para o bem-estar;
- Burnout por negligência – Esse burnout acontece quando as pessoas se sentem incapazes de dar conta do trabalho, sem terem qualquer tipo de suporte da empresa ou dos colegas. Elas podem se sentir incompetentes e, com o tempo, acabam se tornando passivas e desmotivadas.
O primeiro passo para combater o burnout é entender os fatores que contribuem para que ele se desenvolva. Além disso, é importante lembrar que raramente o aparecimento desse transtorno é inteiramente culpa sua. O diagnóstico para Síndrome de Burnout é basicamente clínico, em um processo de levantamento da história do paciente de suas realizações pessoais e profissionais, no qual também podem ser realizados testes psicométricos que ajudem a avaliar a situação.
O melhor tratamento para a síndrome de burnout é a prevenção, evitar que ela chegue a acontecer, de fato. Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no início. Por isto, apresento algumas recomendações que devem ser levadas a sério:
- faça momentos de pausa no seu dia a dia e lembre-se de reservar espaço para o lazer e o descanso;
- tente incluir atividades físicas no dia a dia, como forma de manter o equilíbrio mental;
- evite o consumo de álcool, drogas e estimulantes para aliviar os sintomas de burnout ou para aguentar as pressões do dia a dia;
- ouça os conselhos de seus colegas e familiares. Muitas vezes, pessoas com síndrome de burnout sequer percebem que estão indo além da conta;
- procure ajuda profissional mesmo se achar que seus sintomas não são tão graves. O médico poderá orientá-lo para que o quadro não evolua até um cenário de burnout de fato, em que será preciso ainda mais cuidado e tratamento para recuperação.
O tratamento para esse transtorno pode incluir medicação (antidepressivos, por exemplo). Terapias complementares para relaxamento e hábitos mais saudáveis, tais como exercícios regulares, também são bastante recomendados.
A hipnoterapia é uma ótima opção para o tratamento da síndrome de burnout, pois utiliza uma linguagem capaz de gerar novas perspectivas nos indivíduos através do estado alterado de consciência, onde o profissional consegue ter acesso a dores e traumas de forma mais leve e segura.
O hipnoterapeuta por meio de um conjunto de técnicas, convida o paciente ao desenvolvimento da responsabilidade sobre si mesmo, o auxiliando a melhorar a relação com a sua integralidade, o que significa melhorar a relação da mente consciente com o subconsciente.
A hipnoterapia se conecta diretamente com a mente subconsciente e pode oferecer informações adicionais que ajudam a reformular, atualizar e melhorar padrões inconscientes de comportamento, isso mostra que a sua mente tem o poder de reformular a forma como você sente e lida com a sua vida profissional.
Para a Síndrome de Burnout esse aprendizado possibilita a reconstrução contínua das experiências da vida profissional do indivíduo, pois é por meio dos recursos internos que é possível compreender, adaptar, administrar ou até mesmo solucionar estresses e desenvolver o autocontrole do que está sentindo.
Você pode agir para reduzir seu estresse, definindo melhores limites, gerenciando pensamentos negativos e aprendendo a falar e ser mais assertivo. Acredite ou não, é possível amar seu trabalho e encontrar alegria nele. Tirar férias ou mudar de emprego também pode ajudar. O importante, em todo caso, é procurar apoio profissional para evitar que a síndrome de burnout continue prejudicando o seu bem-estar ou que evolua para outras condições de saúde mental.